quarta-feira, 17 de março de 2010

Quem cala, quem fala


Não faz muito tempo e éramos nós, os brasileiros, que estávamos com a integridade física ameaçada por um regime ditatorial. Muitos dos que estão no governo não podem ter se esquecido de como era importante para quem sofria, e para seus familiares, saber que havia solidariedade internacional.
Não faz muito tempo que aos brasileiros presos por motivos políticos havia apenas o recurso de medidas extremas, na falta do direito de defesa. Quem fez uma greve de fome, ou viveu a aflição de ter uma pessoa querida neste ato desesperado, deve se lembrar: o que os levava a isso era a impossibilidade de chamar a atenção para a sua situação por qualquer outro meio; a imprensa censurada, o Judiciário amordaçado, o Congresso ameaçado.
O gesto era um grito de urgência. Às vezes era pelo direito de sair do confinamento, ou uma forma de não enlouquecer.
Não faz muito tempo que o único canal que vinha em socorro dos dissidentes brasileiros era o externo.
Hoje os dissidentes daquele tempo espalharam-se e divergem entre si em vários partidos, grupos políticos, correntes de pensamento.
Mas certamente todos se lembram de como foi importante haver uma janela para o mar, para olhar o mundo à espera de algum reforço. Foram muitos os governantes estrangeiros que perguntaram pelos nossos dissidentes, quiseram saber das torturas e desaparecidos, defenderam princípios democráticos, constrangendo os generais. As notícias dessas pressões circulavam como uma válvula de escape, uma esperança.
Míriam Leitão
Trecho adaptado. Versão completa no Arquivo de Artigos Etc.

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