Deixei a sessão de O Cavaleiro das Trevas Ressurge com a emoção de um garoto de seis anos que acabou de ver Zorro no cinema. O respeito à mitologia noturna e ao gosto político do morcego me acertaram em cheio. O homem e seus vazios, o tempo abandonado e suas dores, sua força no compromisso e no sacrifício. O momento de plantar uma semente, recomeçar, refazer. E, depois de tudo, a ideia de que só a morte cala o monstro que habita em seu peito. Ou não.
domingo, 29 de julho de 2012
quarta-feira, 25 de julho de 2012
O Nada
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‘Nothing
comes from nothing/nothing ever could..." (Nada vem do nada/nada
poderia vir…)
A frase não é de nenhum físico ou filósofo. É do musical “A
noviça rebelde” e seu autor é Richard Rodgers, que no caso, além da música, fez
a letra, em vez do seu parceiro Oscar Hammerstein (se pode-se confiar no
Google). Rodgers, sem querer, tocou num ponto muito discutido entre
as pessoas que se interessam pelo Universo e como ele ficou deste jeito.
Em todas as teorias sobre a criação e a expansão do Universo
sempre se chega a um ponto em que ou você aceita que algo se criou do nada ou
você abandona qualquer especulação cientifica e vai criar galinhas. Hoje a própria hipótese de tudo ter começado com um Big
Bang, que você e eu pensávamos que não era mais hipótese e sim uma verdade
indiscutível, está sendo discutida. E o problema é o que fazer com o nada. O
que havia antes do Grande Pum era o nada ou antes — só para complicar — não
havia nem o nada? Os físicos dizem que o próprio tempo começou com o estouro
inaugural que formou o Universo em segundos e portanto não faz sentido falar-se
em “antes”. Mas se antes não havia nem antes havia um nada absoluto, do qual,
desmentindo o Richard Rodgers, criou-se o Universo. Houve um tempo em que
pensar muito sobre tudo isso chamava-se “puxar angústia”.
A descoberta do tal bóson de Higgs foi um feito
extraordinário da física. Intuíram a sua existência, concluíram que ele
precisava existir mesmo que nunca o tivessem visto, foram atrás e o
encontraram. Chegou-se mais perto da chamada teoria unificada do Universo que
já era o sonho do Einstein — agora só restam umas duzentas perguntas para serem
respondidas. E o nada continuará incomodando.
A mãe do Woody Allen, num dos seus filmes
semiautobiograficos, impacienta-se com a preocupação excessiva do menino com o
Universo e pergunta: “O que você tem a ver com o Universo?” Muita gente prefere fazer como aquele inglês que passa por
um campo de batalha sem se abaixar ou tomar qualquer outra precaução com as
balas que voam ao seu redor, pois é um estrangeiro e a guerra não lhe diz
respeito. Não temos como nos precaver contra o que o Universo nos
reserva, mas ele decididamente diz respeito a todos. Até criadores de
galinhas...
"
Luis Fernando Veríssimo
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Ficção twitada
Fã das redes sociais, a escritora americana Jennifer Egan tinha cismado: tem de haver um jeito de contar ficção seriada pelo Twitter.
A ganhadora do Pulitzer queria usar a ferramenta para criar uma literatura a ser lida, ansiada e seguida, como os folhetins do passado.
Mas havia sério empecilho: a ficção de Jennifer é escrita à mão! Como, então, calcular textos, adequar cada tweet a até 140 caracteres?
Depois de muita procura, a resposta veio na forma de um caderno japonês, com 8 retângulos por página, contou Jennifer em palestra na Flip.
Lá foi ela, então, escrevendo livremente. Nascia 'Black Box', conto publicado há dois meses pelo Twitter da revista americana 'New Yorker'.
Um trecho era publicado por minuto, durante uma hora, ao longo de dez dias. Depois, virou e-book. Pois, quem gostou da ideia, que se anime.
Em fase de tradução e ainda sem nome em português, 'Black Box' será publicado no Twitter da Editora Intrínseca, no mesmo modelo, em agosto.
'Tinha de ter uma história que não pudesse ser contada de outra forma', disse Jennifer na Flip. 'E tinha de ter uma forma de contar.'
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Texto publicado na coluna Click! em O Globo de 22.07.12
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Ticket, please
Quando até os trens estão perdidos, refazer o caminho de volta fica muito difícil. Para não escapar o último vagão que partiu, talvez seja preciso abandonar algumas malas pelo caminho, e buscar um novo itinerário. Mesmo porque, de qualquer forma, o trem nunca retorna para o mesmo lugar.
domingo, 22 de julho de 2012
Meia-Noite em Nova Iorque
Alice é uma mulher em busca de si mesma. Precisa aprender a olhar ao redor para reconhecer o que a cerca; precisa entender o que é o amor. Entre um marido de 15 anos e o amante encantador, talvez não fique nada, a não ser uma doce lembrança do gosto pelo jazz.
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Se o texto é referente a Simplesmente Alice, o título é uma lembrança a Meia-Noite em Paris. Na balança do destino, tanto Gil quanto Alice pendem por dois caminhos até se encontrarem em um terceiro. No final, o amor - de que jeito for - é o que prevalece.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Velozes e Furiosos
A música faz parte da trilha de O Sucesso a Qualquer Preço, filme com um elenco de primeira para um roteiro de David Mamet. Diálogos velozes, posturas furiosas, e uma intensa corrida para sobreviver em um mercado voraz.
terça-feira, 17 de julho de 2012
Annie Hall do começo ao fim
Os amores parecem impossíveis e enlouquecedores, mas são a cereja do bolo, mesmo para quem acha que a vida se divide entre horrível e miserável.
sábado, 14 de julho de 2012
O fantasma do Sonny
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O que acontece quando se juntam 16 mil processadores,
fazendo um bilhão de conexões, numa das maiores redes neurais já desenvolvidas,
e se dá a esse “cérebro eletrônico” a possibilidade de fazer o que quiser? Ele
sonha com a conquista do mundo? Com a idéia de Deus? Com Gisele Bundchen? Que
nada: como eu, você e todo mundo, ele começa a procurar vídeos de gatos na
internet.
'
Cora Ronai
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domingo, 8 de julho de 2012
Vergonha e abandono
Entre a melancolia invencível e a vergonha profunda, graceja uma suicida em potencial. Dois filmes difíceis de assistir mas que, juntos, talvez signifiquem alguma coisa. Confrontado com a inevitabilidade do fim, o que fazer? Vivemos tempos de luxúria e descarte, de facilidades e processos acelerados. Abandonamos o poder do compromisso, da responsabilidade, pois precisamos ser felizes, não? Afinal, tudo não acaba? Como se a garantia do gozo momentâneo pudesse sustentar uma vida até seu fim. Algo precisa ser criado, cultivado e mantido, e não será sem sacrifício. Essa máquina processadora altamente veloz que trabalha em nossas cabeças precisa dar algum sentido a tudo, e dessa forma criar sistemas de proteção, conforto e estímulo. Pra fazermos diferente, precisaríamos criar um software mais poderoso que a família. Até lá, é o melhor que há. Como remontá-la, em dias tão difíceis, virou a pedra de Roseta do mundo atual. E aí, vai encarar?
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Os filmes citados são, obviamente, Melancholia e Shame. O enorme desejo de potência de New York, New York é parte do último.segunda-feira, 2 de julho de 2012
Blind date
Quantos desencontros cabem em uma vida? Amores que se desfazem, amores impossíveis, amores enrustidos, amores simplesmente perdidos. Tanto se espera enquanto se procura, e o pouco que se acha não dá pra quase nada. Apagam-se as luzes e só fica o silêncio. Hoje não haverá boa noite.
domingo, 1 de julho de 2012
Melancolia de Ozymandias
Ozymandias
Encontrei um viajante de uma terra antiga,
Que disse: Duas pernas feitas de pedra, vastas e sem tronco,
Permanecem no deserto. Perto delas, na areia,
Meio enterrada, uma paisagem devastada se estende.
(...)
E no pedestal estão estas palavras:
“Meu nome é Ozymandias, Rei dos Reis;
Vejam minhas obras, poderosos, e desesperem!”
[Entretanto] Nada resta. Em volta, só a decadência
Dessa colossal destruição, crua e sem limites
Apenas solitária areia por toda parte.
"
Percy Shelley
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Nunca pensei que um dia combinaria Woody Allen com o dr. Jack Shepard.
Todos os caminhos levam a Roma
Diante de todo um império em ruína, nem o amor em pé fica. Se desfaz, se enrosca, e se transforma em outra coisa. Diante da vida que finda, vivê-la, e relembrá-la, é o melhor que há. Das Memórias do que passou, e a dor de um amor que se foi, lembrá-lo com leveza talvez só Roma o permita. E a idade, que reconhece que muito do que já foi vivido, jamais retornará.
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Parece dramático mais não é. É Woody Allen.
O sentido da vida
"
Foi um desses ótimos dias de primavera. Era domingo e era
possível sentir que o verão estava chegando. Eu lembro que naquela manhã eu e
Dorrie tínhamos caminhado no parque. Voltamos ao apartamento. Ficamos só lá
sentados. Eu coloquei um disco de Louis Armstrong, uma música que eu cresci
amando. Foi muito bonito. Eu olhei ao redor e vi Dorrie lá sentada. E lembro
que pensei no quanto ela era maravilhosa, e no quanto eu a amava. E acho que
foi a combinação de tudo. O som da música e a brisa, e como Dorrie estava
linda. E por um breve momento, tudo pareceu se encaixar perfeitamente. E eu me
senti feliz, de uma forma quase indestrutível. É engraçado. Aquele simples
momento de contato, me tocou de uma forma muito profunda.
"
Woody Allen
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Se durante uma estreita passagem entre a primavera e o verão
Woody Allen encontrou o sentido da vida, para alguns o inverno parece que não
tem fim.
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Fala de Woody Allen na boca de Sandy, de Memórias.
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