sábado, 26 de janeiro de 2013

Todo amor que houver nessa vida


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É difícil ficar bravo quando há tanta beleza no mundo. Às vezes eu sinto que estou vendo tudo de uma vez, e é muito, meu coração se enche como um balão que está prestes a explodir e, então, eu me lembro de relaxar e parar de tentar segurar as emoções que fluem através de mim como chuva, e eu não consigo sentir nada além de gratidão por cada momento da minha vidinha estúpida. Você não tem a mínima idéia do que eu estou falando, tenho certeza. Mas não se preocupe...você vai saber um dia.
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 Lester Burnham
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Quando, em algum momento entre 99 e 00, assisti à tal beleza americana, localizada em algum lugar entre a folha caída e a flor consumida, senti um forte impacto. Recém entrado na casa dos 30, vi um homem de meia idade questionando trabalho, casamento, sexualidade e oferecendo, para o lugar das propostas óbvias, daquelas que se aprende no caminho entre a escola e a igreja, uma outra coisa bem pouco usual.
Preciso revê-lo. Depois de tanto tempo passado, me sinto como o Lester que, sem sentir a frieza do cano sobre a nuca, entende onde realmente mora a beleza de uma vida.
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Após Obvious.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O doutor e o diabo


Quando o diabo oferece o amor de uma vida e a beleza de uma filha, é difícil não aceitar o desafio. O que alivia a alma - já então sem salvação - é que só existe jogador se existir o jogo. O próprio coisa ruim protela o fim da peleja e, enquanto a partida não for encerrada, há sempre a chance de um novo lance.
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Morto durante as filmagens, é uma provocação pensar que janela Ledger escolheu atravessar pra se despedir da vida. O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus condensa todo o poder que a imaginação tem na obra de Terry Guilliam, acrescentando a ela uma beleza ainda não vista em outros filmes. O poder das histórias de dar sentido ao universo, o poder transformador da sexualidade nascedora, o poder do desejo do mercado e suas trocas, o poder do jogo entre alguma ideia de bem e de mal. Somente quando os enredos perdem o sentido, e o vazio ocupa seu lugar, é que a própria vida se esvai. Talvez Ledger já tivesse nos contado suas melhores histórias e, como num personagem da trama, tenha escolhido ser imortal.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A freak year


Após o 11 de setembro, vivemos uma década de falso predomínio geek. O ano que termina nos deixou duas pequenas pérolas que representam bem isso. Entre o menino invisível e o menino tigre, o desejo de potência, de transformar todas as utopias em uma grande bomba de máximo impacto. A frágil aranha, que deixa de se atrapalhar nas suas pernas para vestir um colante e salvar o mundo. Tal poder nunca se concretiza, e o gosto da frustração segue presente. Soa como o pequeno silvo que, baixo, sibila de suas entranhas e que, raras vezes, acaba se tornando em estrondo ensurdecedor. Que as fantasias dominem o monstro, e o pequeno camundongo contenha o senhor das trevas que hoje habita dentro dele.

sábado, 29 de dezembro de 2012

A palavra de deus


Segundo Millor, se uma imagem vale mil palavras, então diga isso com uma imagem. As Aventuras de Pi não fazem por menos. Em uma película com cenas tão lindas, o mais tocante foi reservado às palavras de Pi quando, com uma simples e crua narrativa, encerra a história. Grande, belo e emocionante filme conduzido por Ang Lee, com o dedo de James Cameron. Seu Richard Parker já me foi assustador em 2D, fico imaginando como seria em 3...

domingo, 9 de dezembro de 2012

Welcome to the island of misfits toys



Apesar de, como diz a Veja, As Vantagens de Ser Invisível já nascer um clássico sobre a adolescência, e de me lembrar dos filmes do John Hughes, só que mais seco, comete um pecado já no seu começo - o cara que escreveu o livro, e depois, quem fez o filme, não tem a menor ideia do que é ser invisível. 
Para poder explicar meu ponto de vista, eu agora terei que fazer uma revelação, mas estou tranquilo quanto às suas consequências. Eu tenho o poder de ficar invisível. Desde sempre. Portanto, sei que um jovem invisível não sofre bullying, não faz parte de um grupo tãão maneiro, não abala um refeitório por espancar alguém, e nem beija a garota mais bonita do pedaço. E ela ainda é a Emma Watson! Bem, devo confessar, também, que, mesmo que raro, isto até acontece. Só que ninguém fica sabendo.
Quanto ao meu segredo revelado, tudo bem. Tenho certeza que, assim como minha foto ou minhas postagens, esse texto também ninguém viu...
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Assisti na mesma tarde a As Vantagens de Ser Invisível e Celeste e Jesse para Sempre. O primeiro trata das dificuldades de ser jovem, e seus jovens amores. O segundo das dificuldades dos casamentos e dos seus divórcios. Entre um e outro, o trailer de Um Evento Feliz que, para mim, trata das dificuldades de ser pai. Qualquer mulher que assistir dirá que é sobre a maternidade, vá lá, não era esse o meu olhar. Durante toda a tarde, minha filha tentando falar comigo por telefone, e eu não consegui respondê-la. Como se pode ver, uma tarde como essa, fácil não foi.
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Se você já passou por alguma dessas dificuldades, assista aos filmes. Vale a pena.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

De volta à Ítaca


Que história seria
Se Ulisses voltasse,
Encontrasse apenas
Uma colcha cerzida?

Na noite aquecida
Certamente seria
Bem melhor que a minha.
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Imagem, MarcellaPrata.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Feitiço de Andie



Funeral Blues

Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Evitem o latido do cachorro com um osso suculento,
Silenciem os pianos e com tambores lentos
Tragam o caixão, deixem que o luto chore.
Deixem que os aviões voem em círculos altos
Riscando no céu a mensagem Ele Está Morto,
Ponham gravatas beges no pescoço dos pombos brancos do chão,
Deixem que os guardas de trânsito usem luvas pretas de algodão.
Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste,
Minha semana útil e meu domingo inerte,
Meu meio-dia, minha meia-noite, minha canção, meu papo,
Achei que o amor fosse para sempre: Eu estava errado.
As estrelas não são necessárias: retirem cada uma delas;
Empacotem a lua e façam o sol desmanchar;
Esvaziem o oceano e varram as florestas;
Pois agora nada mais de bom nos resta.

W. H. Auden

Como o filme é de 1994, imagino que já tenhamos 18 anos de quando eu vi esse filme no cinema, exatamente em um dia como o de hoje. Sempre gostei das comédias românticas, desde Cary Grant e Gracie Kelly na Sessão da Tarde. Este filme trazia um outro Grant da qual eu sou fanzaço, com filmes que já vi um monte de vezes. E a Andie... O primeiro que me lembro dela já me foi um filme marcante - Sexo, Mentiras e Videotape. Assisti a vários outros, inclusive um dos meus preferidos entre tantos, O Feitiço do Tempo. Juntando os seus longos cachos com os doces romances vividos no cinema, não há sofá, fim de tarde e lágrima que resista.
Quanto ao poema, sua citação rasga um vazio que as comédias românticas não gostam de lembrar. Nestas, a história termina no momento preciso em que, depois de algumas desventuras, é possível sonhar com a ideia de ser feliz para sempre. Como parece que alguém já disse e Phill, em Punxsutawney, constatou, isso sempre acaba.