"
‘Nothing
comes from nothing/nothing ever could..." (Nada vem do nada/nada
poderia vir…)
A frase não é de nenhum físico ou filósofo. É do musical “A
noviça rebelde” e seu autor é Richard Rodgers, que no caso, além da música, fez
a letra, em vez do seu parceiro Oscar Hammerstein (se pode-se confiar no
Google). Rodgers, sem querer, tocou num ponto muito discutido entre
as pessoas que se interessam pelo Universo e como ele ficou deste jeito.
Em todas as teorias sobre a criação e a expansão do Universo
sempre se chega a um ponto em que ou você aceita que algo se criou do nada ou
você abandona qualquer especulação cientifica e vai criar galinhas. Hoje a própria hipótese de tudo ter começado com um Big
Bang, que você e eu pensávamos que não era mais hipótese e sim uma verdade
indiscutível, está sendo discutida. E o problema é o que fazer com o nada. O
que havia antes do Grande Pum era o nada ou antes — só para complicar — não
havia nem o nada? Os físicos dizem que o próprio tempo começou com o estouro
inaugural que formou o Universo em segundos e portanto não faz sentido falar-se
em “antes”. Mas se antes não havia nem antes havia um nada absoluto, do qual,
desmentindo o Richard Rodgers, criou-se o Universo. Houve um tempo em que
pensar muito sobre tudo isso chamava-se “puxar angústia”.
A descoberta do tal bóson de Higgs foi um feito
extraordinário da física. Intuíram a sua existência, concluíram que ele
precisava existir mesmo que nunca o tivessem visto, foram atrás e o
encontraram. Chegou-se mais perto da chamada teoria unificada do Universo que
já era o sonho do Einstein — agora só restam umas duzentas perguntas para serem
respondidas. E o nada continuará incomodando.
A mãe do Woody Allen, num dos seus filmes
semiautobiograficos, impacienta-se com a preocupação excessiva do menino com o
Universo e pergunta: “O que você tem a ver com o Universo?” Muita gente prefere fazer como aquele inglês que passa por
um campo de batalha sem se abaixar ou tomar qualquer outra precaução com as
balas que voam ao seu redor, pois é um estrangeiro e a guerra não lhe diz
respeito. Não temos como nos precaver contra o que o Universo nos
reserva, mas ele decididamente diz respeito a todos. Até criadores de
galinhas...
"
Luis Fernando Veríssimo
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