quinta-feira, 29 de julho de 2010

A estátua e a esfinge

 
Escolhas conscientes, vitórias inconsistentes:
uns decifram, outros devoram...

Charges, Leo Martins.

O peso da palavra

Vitória vazia, feita de tristeza do prazer negado. Vitória esquecida, apagada pela glória dos ídolos de barro. A palavra, intangível, deixa marcas em quem as profere. O troféu, de reluzente metal, brilha sem um arranhão. Ter o poder de escolha é uma vitória, mas só escolhe quem pode pagar o preço da independência.

terça-feira, 27 de julho de 2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quase histórias

Cresci ouvindo as histórias de meu pai sobre futebol. Seu grande ídolo, quando jovem, era Castilho. O grande goleiro do Fluminense, tido por alguns como o melhor de todos os tempos, jogou a Copa de 54. A fracassada Copa de 54. Depois disso, continuou na Seleção Brasileira, como reserva. Viu o grande bicampeonato do banco. Em 58, a Seleção era liderada por Didi, de quem meu pai falava encantado. Ele também estava em 54, e retornou para as Laranjeiras com Castilho. Saiu de lá em 57, e seus anos de glória pela Seleção já não seriam mais vestindo as três cores.
Anos depois, quando eu ainda era garoto, estava em casa quando meu pai voltou de um dia chuvoso no Maracanã, contando como mal tinha conseguido ver alguma coisa no estádio abarrotado de gente. Não falou nada sobre a frustração de ver a Máquina emperrar, inundada. Não queria me avisar da sina que nos segue. Mas só mais tarde fui percebê-la.
Meu primeiro ídolo no futebol foi um zagueiro chamado Edinho. Era tão bom que Coutinho, o técnico da Seleção em 78, acreditava que poderia jogar de lateral-esquerdo. Foi barrado durante a Copa e, do banco, viu a seleção não chegar à final. Em 82, já não vestia mais nossa jaqueta. Mas, ainda assim, ansiava vê-lo titular na Seleção. Mais uma vez, do banco, viu a Seleção ser eliminada em Sarriá. Em 86 seria sua vez. Capitão da Seleção, entraria para a História erguendo a taça de campeão. Como todos sabem, não o fez. E eu desci minha rua timidamente chorando mais uma desilusão. Seu sucessor no Fluminense foi Ricardo, tricampeão Carioca e campeão brasileiro. Só foi convocado, assim como Branco, depois que saiu do Tricolor. Capitão da Seleção, foi eliminado em 90 e cortado às vésperas da Copa de 94. Não avisaram a ele a sina dos tricolores.
De lá pra cá, vivemos anos de crise. Que se intensificaram após a impressionante eliminação na semifinal do Brasileiro de 95, quando perdemos uma grande vantagem ao tomarmos uma goleada em Santos. Fomos rebaixados três vezes seguidas. Só resurgimos com a virada do milênio. Nos últimos anos, foram muitas emoções. No centenário, acreditei que faríamos a Tríplice Coroa. Depois da conquista do Carioca em 2005, perdemos a final da Copa do Brasil para o Paulista e, na reta final do Brasileiro, perdemos 5 seguidas e ficamos fora até da Libertadores. Depois, perdemos a Libertadores mais incrível dos últimos tempos nos pênaltis. No ano seguinte, perdemos a Sulamericana mais incrível dos últimos tempos, e para o mesmo algoz.
Contei tudo isso para justificar meu luto. Já deveria estar acostumado. Quando Muricy Ramalho chegou ao Flu, parecia inacreditável. No ano anterior, já tínhamos feito a contratação mais impressionante de nossa história recente com a chegada do Fred. Contratar o melhor técnico do Brasil era assumir o risco de ser campeão brasileiro. Enquanto aguardávamos a chegada de vários reforços já confirmados, chegamos a liderança do campeonato. Rumo ao título! Bom... essa história não terminará. Para você, que acabou de chegar, obrigado, Muricy. E adeus. Siga sua sina vitoriosa, que nós seguiremos a nossa. O pouco tempo que viveu nas Laranjeiras, com certeza, não foi suficiente para deixar em você a marca da quase história. Então, boa sorte canarinha.

...

Bom,... com o passar do turbilhão do fim-de-semana, podemos dizer que, daqui há alguns anos, alguém lembrará que quase houve uma história entre Muricy e a Seleção. Desculpe, irmão, mas já foste marcado.

La dama y la muerte


Via Zooblog.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A extinção dos botos da Guanabara

O boto carioca sumirá até 2050. De uma população de alguns milhares há até 50 anos, só restaram 40, de acordo com o monitoramento da Uerj. Os poucos que restam na Guanabara circulam pelo canal central de navegação e ficam pela manhã próximo da ilha de Paquetá, onde a navegação é reduzida e a poluição é menor. Pelo menos até a instalação de componentes industriais prevista para Itaguaí, que se juntará ao terminal de GNL perto de Paquetá e está em construção um outro de GLP, todos da Petrobras. Segundo a universidade, por maiores que sejam os cuidados ambientais, o aumento da navegação, da poluição industrial e sonora são fatores suficientes para afugentar os animais. Bom, depois que desaparecerem, quem precisará de royalties de petróleo para alguma coisa?
...
Dados da Folha. Cartaz de campanha da Petrobras sobre sua preocupação com a biodiversidade, Ads of the World.

domingo, 11 de julho de 2010

Admirável mundo novo

Poderia parecer muitas coisas. No campo que pretendia comemorar a diversidade racial, duas seleções européias, ex-colonizadoras, repletas de brancos, mostraram-se soberanos. Afrikaners poderiam vir comemorar suas raízes, a Holanda estava na final. Tudo sobre o olhar das melhores casas reais européias. Sei não...
Quando todos esperavam ver os melhores do mundo em ação, o assunto dominante foi a bola de plástico Jabulani, o Polvo que acertava mais que comentarista, que modelo ia patrioticamente tirar a roupa primeiro, que árbrito ia ganhar o Oscar de efeitos especiais. Segunda pior média de gols da História das Copas. Maior número de cartões em uma final. Na lista top 5 dos craques, ninguém fez gol. Ah, sim, o Cristiano fez. Sem querer. Sei não...
Num mundo globalizado e tecnológico, o técnico ditatorial brasileiro fechou concentração, atleta japonês preferiu jogar pela Coréia do Norte - e chorou com hino - e árbitro não viu o que todo mundo, em 36 câmeras, viu. A bola, depois de muito estudo, mostrou-se uma porcaria. Afinal, avançamos ou regredimos?
A resposta fica clara quando percebermos que nada disso fez diferença. Diversidade racial significa exatamente isso, qualquer um pode estar lá. Falou-se de tudo além do futebol, mas não temos como esquecer os emocionantes jogos dos norte-americanos, os últimos e dramáticos minutos finais da Itália, a sequência de pênaltis entre Gana e Uruguai - aliás, qualquer jogo do Uruguai foi cheio de alternativas. A bola não impediu os grandes jogos da Alemanha e da Espanha e, pra quem queria ver craques, a Espanha tinha um monte. No novo mundo do futebol, a América se agigantou, a final foi virginal, e uma nova escola de futebol se consolidou.
Mas, já que tratamos de tudo além de futebol, nós, ibero-americanos, podemos comemorar. A musa da Copa é paraguaia, a estrela da final é colombiana, o craque escolhido é uruguaio e o campeão é espanhol. Imaginem se os melhores do mundo - todos ibero-americanos - comparecessem ao Mundial...

Onde tudo começou

Via Flávio Gomes.

sábado, 10 de julho de 2010

Orgulho e preconceito



     
A grande surpresa da Copa do Mundo de 2010 se despede provocando pequenas ironias. A Alemanha renascida é uma seleção dos novos tempos, multi-étnica e globalizada. Num mundo onde o mercado profissional é mais importante que os valores nacionais, o cérebro germânico Shweinsteiger deve ter problemas para falar em alemão com seus compatriotas. Talvez por isso cantasse o hino quase que sozinho. Mas foi uma grande alegria ver que, no país que conseguiu superar o Apartheid, a Alemanha consegue refazer sua história. Não só os turcos imigrantes na Alemanha viam com bons olhos a escolha de seus filhos pela nacionalidade alemã em detrimento da turca. Como foi publicado no Globo de 07.07.10, até em Israel havia simpatizantes ao selecionado germânico.
Bom, nem todos. Para o sobrevivente do Holocausto Zeev Wolf, é "simplismente uma desgraça que a equipe alemã tenha tantos fãs em Israel". Concorda com ele 'Blaue Narzisse', como se autodenomina um membro de um grupo neonazista em declaração a revista 'Der Spiegel', publicada em O Globo de 06.07.10. Para ele, "as cores da bandeira estão sendo abusadas neste megaevento por esse time alemão multicolorido". Para 'NSRealist', "Özil, Khedira, Cacau, Podolski podem se jogar em um lago. Nós não precisamos deles. Os outros são bons o suficiente".
Em contraposição, o eternamente lúdico carrossel holandês dá lugar a uma máquina de vitórias. De forma mais contida, resguardada e burocrática, a seleção holandesa chega a uma final depois de 32 anos com a cara da velha Alemanha. Não é mágica como a geração duas vezes finalista nos anos 70, nem refinada como a geração dos anos 80 e 90, com equipes repletas de craques que ganharam tudo em seus clubes mas que não tiveram nem a chance de serem campeões mundiais. Curiosamente, assim como a vitoriosa seleção francesa do franco-argelino Zidane e a talentosa seleção alemã do Mesut Özil, a Holanda de Gullit a Seedorf também tinha um elenco multi-étnico, indo da América Central ao Mediterrâneo. Mas não deixou de viver com conflitos internos, surgindo até acusações de racismo. Parece que os dois problemas foram deixados para trás. A seleção holandesa reencontrou o caminho para a Grande Final e, embranquecida, não pode ser mais acusada de preconceituosa.
Abaixo, a lista étnica alemã e matéria de O Globo sobre as relações entre Holanda e Suriname.
 

Memória suburbana

Batebola, por winwin ds.

domingo, 4 de julho de 2010

Alemanha impura

Os uniformes negros estão de volta. Para os amantes do bom futebol, é uma grande alegria ver a seleção de futebol da Alemanha retornar ao cenário como uma potência a ser não só respeitada como temida. Curiosamente, quando ainda se duvidava da capacidade desta seleção de superar os desafios, era comum lembrar, às vésperas do confronto com a celebrada seleção inglesa, que uma única vez os alemães não ficaram entre os oito primeiros. Foi justamente a seleção purificada de 1938, que expurgou jogadores de origem judaica e foi fortalecida pelos arianos austríacos de origem germânica tão admirados na Europa da época. Eliminados na primeira fase, tornaram-se uma das tentativas fracassadas de Hitler de provar a superioridade de sua raça. Contrariamente àquela, esta é uma seleção multicultural, feita por poloneses, turcos, tunisianos, ganeses. Impura, rejuvenecida e brilhante Alemanha de 2010.
Para ver mais sobre a relação entre etnia e futebol, ver Wapedia, UOL Educação, MSM e Futebol para Meninas. Para ver como em alguns países esta questão ainda não está bem resolvida, leia texto abaixo publicado em O Globo. A imagem refere-se ao primeiro uniforme da seleção alemã, no qual o atual se baseia, de acordo com o Tira-teima.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Desenhado por Gustavo Utrabo, Juliano Monteiro, Pedro Duschenes e Thiago Valério Zandoná, "as novas estruturas serão 1.600 metros de altura e vai proporcionar habitação acessível para milhares de novos moradores. Sua infra-estrutura dá apoio a toda a comunidade, com actividades recreativas, educacionais e culturais. A fachada é composta por volumes de diferentes tipologias. Os artistas locais serão convidados a experimentar em cima delas e criar uma unidade visual, com uma distribuição desordenada de materiais e cores. A circulação vertical do edifício explora diferentes possibilidades de chegada e de novas formas de interação para a comunidade". Assim foi publicado na Evolo