sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quase histórias

Cresci ouvindo as histórias de meu pai sobre futebol. Seu grande ídolo, quando jovem, era Castilho. O grande goleiro do Fluminense, tido por alguns como o melhor de todos os tempos, jogou a Copa de 54. A fracassada Copa de 54. Depois disso, continuou na Seleção Brasileira, como reserva. Viu o grande bicampeonato do banco. Em 58, a Seleção era liderada por Didi, de quem meu pai falava encantado. Ele também estava em 54, e retornou para as Laranjeiras com Castilho. Saiu de lá em 57, e seus anos de glória pela Seleção já não seriam mais vestindo as três cores.
Anos depois, quando eu ainda era garoto, estava em casa quando meu pai voltou de um dia chuvoso no Maracanã, contando como mal tinha conseguido ver alguma coisa no estádio abarrotado de gente. Não falou nada sobre a frustração de ver a Máquina emperrar, inundada. Não queria me avisar da sina que nos segue. Mas só mais tarde fui percebê-la.
Meu primeiro ídolo no futebol foi um zagueiro chamado Edinho. Era tão bom que Coutinho, o técnico da Seleção em 78, acreditava que poderia jogar de lateral-esquerdo. Foi barrado durante a Copa e, do banco, viu a seleção não chegar à final. Em 82, já não vestia mais nossa jaqueta. Mas, ainda assim, ansiava vê-lo titular na Seleção. Mais uma vez, do banco, viu a Seleção ser eliminada em Sarriá. Em 86 seria sua vez. Capitão da Seleção, entraria para a História erguendo a taça de campeão. Como todos sabem, não o fez. E eu desci minha rua timidamente chorando mais uma desilusão. Seu sucessor no Fluminense foi Ricardo, tricampeão Carioca e campeão brasileiro. Só foi convocado, assim como Branco, depois que saiu do Tricolor. Capitão da Seleção, foi eliminado em 90 e cortado às vésperas da Copa de 94. Não avisaram a ele a sina dos tricolores.
De lá pra cá, vivemos anos de crise. Que se intensificaram após a impressionante eliminação na semifinal do Brasileiro de 95, quando perdemos uma grande vantagem ao tomarmos uma goleada em Santos. Fomos rebaixados três vezes seguidas. Só resurgimos com a virada do milênio. Nos últimos anos, foram muitas emoções. No centenário, acreditei que faríamos a Tríplice Coroa. Depois da conquista do Carioca em 2005, perdemos a final da Copa do Brasil para o Paulista e, na reta final do Brasileiro, perdemos 5 seguidas e ficamos fora até da Libertadores. Depois, perdemos a Libertadores mais incrível dos últimos tempos nos pênaltis. No ano seguinte, perdemos a Sulamericana mais incrível dos últimos tempos, e para o mesmo algoz.
Contei tudo isso para justificar meu luto. Já deveria estar acostumado. Quando Muricy Ramalho chegou ao Flu, parecia inacreditável. No ano anterior, já tínhamos feito a contratação mais impressionante de nossa história recente com a chegada do Fred. Contratar o melhor técnico do Brasil era assumir o risco de ser campeão brasileiro. Enquanto aguardávamos a chegada de vários reforços já confirmados, chegamos a liderança do campeonato. Rumo ao título! Bom... essa história não terminará. Para você, que acabou de chegar, obrigado, Muricy. E adeus. Siga sua sina vitoriosa, que nós seguiremos a nossa. O pouco tempo que viveu nas Laranjeiras, com certeza, não foi suficiente para deixar em você a marca da quase história. Então, boa sorte canarinha.

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Bom,... com o passar do turbilhão do fim-de-semana, podemos dizer que, daqui há alguns anos, alguém lembrará que quase houve uma história entre Muricy e a Seleção. Desculpe, irmão, mas já foste marcado.

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