Melancholia. Ao entrar para o banho quente, repensei o quanto me perturbei com um filme visto no início de julho e que, afinal de contas, é apenas uma grande síntese da vida. Certamente, diferentemente de alguns outros, o meu incômodo não estava na Grande Verdade revelada, mas sim na presença da criança diante de tais circunstâncias. Espelhamento na Laura, certamente. Talvez algum traço de melancolias de infância, vai saber. Mas, então, percebi. Como uma epifania, entendi o abandono de tudo, a desistência de todos, a espera amarga. Quando tantos veem festa, Justine só enxerga fim. Onde tantos veem arte, ela só enxerga fim. As certezas científicas que tantos veem, ela só vê fim. As convenções não fazem sentido, as cerimônias, reverências e ambições. Tudo é fim. Um a um será abandonado, até o momento que todos começam a enxergar o fim. E aí, então, vem a serenidade. Pelo menos a de Justine. É diante da porta de saída que seu olhar se volta para a única coisa que interessa - a criança, a única personagem que nunca teve condições de entender o que se passava. Infelizmente, não haverá tempo para seu amadurecimento. Enquanto der, aí sim cabe a simulação, o jogo, a encenação.
Entendo bem o que é abandonar o que ninguém teria coragem. Entendo também o que é tentar enquanto tantos pensam em desistir. Curiosamente, como Justine, eu entendo. Que a caverna mágica nos proteja.