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Atualmente, a 'cinefilia' soa quase como um vício sexual;
talvez tenha sido. Há um mundo secreto, próprio do cinema, que só alguns ainda
conhecem. Hoje o cinema é nu. Está exposto nas lojas, feiras e bancas de
jornais, está nos hotéis, na ponta dos dedos dos insones, está nas TVs, está
rodando bolsinha nas ruas.Tenho saudades da sala escura, do cinema
segredo, do cinema dos pobres tímidos e solitários, do cinema como realidade
alternativa que analisávamos noite adentro nos bares. Como era bom esperar um
filme do Fellini, e o novo Antonioni, e o novo Godard...
...
Talvez seja esta a "essência" do cinema: registrar
a morte comendo a vida. Hollywood é um lancinante cemitério de estrelas. São
beijos e olhos e corpos embalsamados no tempo da película. Fred Astaire dança
no ar do nada, James Dean anunciava a morte em sua melancolia trágica. Sei como
dói amar uma morta - eu que me apaixonei por Brigitte Helm em Metrópolis e amei
as pernas perfeitas de Louise Brooks e Cid Charisse, na necrofilia da sala
escura.
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Arnaldo Jabor
Texto adaptado de 'Tenho saudades da 'alma' do cinema', publicado no Estadão de 10.07.12. A íntegra pode ser vista aqui.
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