Devo confessar, eu ouço os deuses. Desde criança, aprimoro meus ouvidos e percebo, em pequenos sussurros, seus manifestos. Os ritos, o templo, a epifania - suas formas pouco importam. Em algum momento, tudo se faz claro para mim. Bem, nos últimos dias, ouvia o chiado, mas não entendia o recado. A princípio, passei por um sutil espanto, e me indaguei se não havia sido abandonado. Ou se, por algum sentimento perdido, estivesse incapaz de ouvir. Mas, então, o tamborilar se fortaleceu, e a verdade se revelou, mais uma vez.
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Já comentei sobre a sina de uma geração quando da morte de Glauco e da homenagem a Hughes. Os filhos dos 80 viram, como um replicante diante do criador aceitando a inevitabilidade da morte, estrelas brilharem e desaparecerem, deixando a sensação que nenhum rastro ficaria para trás. Quando o futuro chegou, percebemos que tantas coisas continuam vivas, apesar de combalidas - como a coluna de Hebert, que se curvou e quebrou, mas sobreviveu. As dores ficam, mas só dói enquanto nos levantamos, e continuamos caminhando. Como dizia o filósofo Balboa, a vida bate forte. Essa é uma geração que soube reconhecer a tirania do destino e, apesar disso, seguir em frente, não importando onde isso vai dar.
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E os deuses com isso? Anote o recado: para todo Guerreiro, o que importa não é a vitória; a vida é feita nas batalhas. O troféu é um lustre, uma ilusão de que um momento pode ser congelado e guardar, dentro de sua redoma de vidro, uma felicidade eterna. A felicidade é para os fracos. Isso é algo que só os fortes - e Guerreiros - entenderão.
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