Estava mais uma vez peregrinando pelo Estádio das Laranjeiras, caminhando pelo gramado, pensando sobre o passado. Espalhadas pelo campo, imagens de bronze pareciam ganhar vida. Castilho pronto para saltar na captura de mais uma pelota; Welfare, dentro da área, pronto para decidir mais um match. Ao redor deles, cada um com sua bola, convidados estáticos desfilavam elegância, destreza e paixão, ídolos como Heleno, Barbosa ou Dida. Homens que construíram um mundo imaginário que tornava-se real a cada conversa entre pai e filho, reunião de botequim e lição de moral de veteranos para infantes. Antes de partir, um café observado pelos vitrais franceses lembrava-me do ideal olímpico, do espírito de amor pelo que se faz, do respeito pela coletividade, do desafio sobre o corpo e mente. Ao partir, caminhando pela alameda dos bustos de tantos outros com quem meus antepassados dividiram alegrias e tristesas, senti a responsabilidade de um legado que deveria passar adiante, para uma nova geração que carregará meu nome e minhas cores.
O devaneio acima foi provocado pela onda de homenagens a ídolos, recentes ou nem tanto, ligados ao futebol. A estátua do Zico parecia óbvia, como se ela sempre estivesse ali, e agora nos apercebemos dela. Reverenciar João Saldanha é reconhecer a grandiosidade do futebol, de que ele é feito de muito mais coisas do que uma bola rolando. Por último, a homenagem a Gighia foi, pelo menos para mim, uma forma enviezada de reconhecer o respeito merecido pelo talento dos outros e, principalmente, superar o trauma e reconhecer o feito de uma geração, vice-campeã mundial.
Mas algo já me cutucava em celebrações como essas, e continuam me incomodando. Os monumentos de material resistente, rígido, capaz de superar intempéries, são grandes âncoras para a memória de um povo, e por isso sua importância. Todos eles vão ultrapassar nossas existências, com alguma facilidade. O registro estará lá, no futuro, gravado na pedra. Mas algo escapa, algo que vai além da recordação de quem foi, onde esteve, o que fez. Falta a emoção. Para os grandes mestres que foram, mereciam mestres como eles para expor todo o sentimento que provocaram, toda a superação e habilidade que impunham aos seus corpos, todos os cânticos de louvor que provocaram em uma massa que, quanto mais o tempo passa, mais ama esse esporte.
Para ver a tira completa, Depósito do Calvin.
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