terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O doutor e o diabo


Quando o diabo oferece o amor de uma vida e a beleza de uma filha, é difícil não aceitar o desafio. O que alivia a alma - já então sem salvação - é que só existe jogador se existir o jogo. O próprio coisa ruim protela o fim da peleja e, enquanto a partida não for encerrada, há sempre a chance de um novo lance.
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Morto durante as filmagens, é uma provocação pensar que janela Ledger escolheu atravessar pra se despedir da vida. O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus condensa todo o poder que a imaginação tem na obra de Terry Guilliam, acrescentando a ela uma beleza ainda não vista em outros filmes. O poder das histórias de dar sentido ao universo, o poder transformador da sexualidade nascedora, o poder do desejo do mercado e suas trocas, o poder do jogo entre alguma ideia de bem e de mal. Somente quando os enredos perdem o sentido, e o vazio ocupa seu lugar, é que a própria vida se esvai. Talvez Ledger já tivesse nos contado suas melhores histórias e, como num personagem da trama, tenha escolhido ser imortal.

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