terça-feira, 1 de maio de 2012

Do androids dream of electric sheep?

Nas entranhas das engrenagens que dão vida à cidade, um garoto sonha com um mundo-máquina e seu grande relojoeiro, capaz de fixar todos os problemas. Desemperrar as catracas, liberar os fluxos, aparafusar o que estiver solto. Encaixar o que falta. Enquanto as artérias urbanas pulsam, crianças são arrastadas para longe de suas famílias, numa corrente contínua até que emperrem como tampões gordurosos as válvulas de escape. Enquanto as cadeias de abastecimento se retroalimentam, jovens são moídos pelos pontos de fissura onde membros são recompostos com metais e parafusos, até que enferrujem e imobilizem células de segurança e sobrevivência. Enquanto os gerenciadores operacionais resignificam os procedimentos para manter o estímulo mobilizador, cérebros são descartados por não mais atenderem às demandas até que não haja mais qualquer possibilidade de negação às falhas do sistema.
Enquanto isso, Hugo Cabret, aprendiz de relojoeiro, lubrifica os encaixes, fixando sonhos capazes de nos distanciar de tudo que é problema, para que continuemos a empurrar a grande roda da vida do mundo-máquina, onde a caixa preta projeta uma verdade sempre de cabeça pra baixo.

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