O republicano Clint Eastwood fará 80 anos. Durante a década de 1990, dirigiu e estrelou filmes como Coração de Caçador (90), Os Imperdoáveis (92) e Um Mundo Perfeito (93), quando reviveu, já na maturidade, o cowboy que foi no início da carreira, sempre de arma em punho, pronto a resolver sozinho os desafios que a vida lhe impunha. O justiceiro marginal, sempre deslocado num mundo estranho que nem sempre entende sua ética. Clint, como um dia já foi John Wayne, é a cara de uma América self made, individualista, independente, guerreira, e a arma é seu instrumento, que garante sua autonomia e impõe a sua vontade.
Hoje, já com as costas curvadas, Clint ainda é um homem ativo, mas assume a sua decadência. O mundo ao seu redor não é o mesmo, e ele está muito distante do vigor da juventude. Se um dia foi um toureiro na arena, espada em punho para, elegante e só, enfrentar os infortúnios, hoje é o touro a ser enfrentado.
Assim é em seu último filme Gran Torino, onde um ex-combatente e seu Ford 1972 vivem em um bairro decadente de uma América decadente. Walt Kowalski, depois de muitos anos morando na mesma casa, está sem os antigos vizinhos, viúvo, distante dos filhos. Só, não entende os jovens, não entende sua família, não entende seu país. Ou pelo menos o que aconteceu com ele e com seus antigos valores.
Mas Walt reconhece seus demônios e, aos poucos, percebe que o acontece a sua volta é, em parte, consequência deles. Ou dos demônios da América. O homem, que ainda se sente destemido, sangra, e seus males precisam ser exorcizados. A purificação só vem com o sacrifício. Para o bem de Walt, ou de uma nova América, o Touro precisa ser martirizado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário