Havia um pequeno parque, repleto de brinquedos coloridos, protegido pelas sombras das árvores, onde pousavam pássaros robustos de peito alaranjado, pequenas lavadeiras saltitantes, bentevis animados. Por vezes, aves de longas caudas cortavam o espaço; não menos raro, gaviões circundavam pelo entorno. Com um grande portão de entrada, ele me recebeu várias manhãs. Ao atravessar, eu agradecia a existência de um lugar que procurei por tanto tempo, e que achei que fosse carregar comigo por bem mais.
Olhando através da parede envidraçada do alto do prédio principal, o parque se fazia presente como um mosaico de um colorido disforme. Os ruídos se alteravam, e a calma se ocupava de agitação. Lecionar não é pra qualquer um. A ambição precisa estar em outro lugar; as relações de troca não se dão em moedas correntes. Os desafios são de outra monta, e demandam um tempo que o nosso tempo não nos dá. Mas ali, olhando pelo corredor os tons infantis de azuis e vermelhos que atravessavam o vidro, era possível vislumbrar um lugar que o tempo, e os desejos, corriam de outra maneira.
Longe do continente, é como viver um outro mundo. Como em uma pequena cidade de relações tão próximas, as rotinas de um professor são feitas de horários flutuantes e encontros constantes. Assim estou há onze anos. Foi num Setembro já um tanto distante que tudo começou, com a mudança pra cá e a nova profissão. Começo a me despedir de muita coisa. O parque já não é mais o mesmo. Corroído pelo tempo, seus esqueletos expõem abandono. As copas de suas árvores foram violentadas, e os pequenos traços de sombra sobreviventes são incapazes de conter o sol que nos castiga. Debaixo de tanto calor, recebo a notícia de que, em breve, seus portões se fecharão definitivamente pra mim. Hora de procurar outro lugar. Pra quem, como em música do Tim Maia, não precisa de muita coisa, houve um momento que achei que já tinha demais. Mas são outros tempos. Como tudo que é sólido se desmancha no ar, hora de caminhar. Novos horizontes se apresentam e, ao que tudo parece, os Setembros não se farão mais como antigamente.
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