quarta-feira, 27 de junho de 2012

Síndrome de Laio


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Em um ensaio intitulado 'O pai antes do Édipo', Maria Rita Kehl lembra que os 'psicanalistas afiliados aos ensinamentos de Freud e Lacan estão acostumados a pensar que o pai, no chamado primeiro tempo do Édipo, não existe para a criança'. Para a psicanálise dessa tradição, a paternidade, ao menos da perspectiva do filho, só começa no momento em que o pai se torna aquele que interrompe a experiência fusional do infans com a mãe. É por essa presença limitadora - chamada de função paterna, uma vez que não necessariamente requer um pai biológico - que se 'resolve' o complexo de Édipo e a criança assimila a Lei, e com ela a falta e o desejo (as aspas em 'resolve' o complexo de Édipo é, claro, mal-resolvido). Mas então, pergunta-se Rita Kehl, 'se para o recém-nascido só existe a mãe, indiferenciada do infans, extensão de seu corpo de prazer, que diferença pode fazer a intervenção precoce do Outro como o intruso, o terceiro indesejável, o dono do falo, cruel privador da mãe e do bebê?' Em outras palavras, o que é o pai antes do Édipo?
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Francisco Bosco
Trecho do texto publicado em O Globo de 27.06.12

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Hoje desconfio que a paternidade se define na busca por essa resposta, tal qual o cavaleiro arthuriano que nunca a encontra.

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