Neste domingo, lendo o artigo do João Ubaldo Ribeiro sobre o Estatuto da Palavra, pensei o quanto do politicamente correto é retrocesso, e o quanto continuamos os mesmos, apenas com novas ferramentas. Apesar de toda revolução tecnológica, capaz de nos levar a um novo paradigma de conhecimento, as fogueiras continuam ardendo, e os inquisidores estão ansiosos para encontrar pecadores. Uma nova moral se constrói, e os olhares vigilantes, agora, estão com os circuitos integrados. O Estado, que tudo vê, penetra cada vez mais seu olhar para dentro de nossas casas, invadindo nossos corpos, remexendo nossos lixos.
Em algum momento, chegou a parecer que não seria assim, e que os pecados nos abandonariam, mas não os pecadores. Achava-se que os imorais viveriam em um campo de sonhos. Woody Allen, com seu 'Crimes e Pecados', enxergou o início do abandono do bastão, mas ainda era muito cedo para perceber que alguém não iria deixá-lo cair. Quando Deus começa a abandonar nossos juízos, em 1989 parecia que nada ficaria no lugar, e que caminharíamos para um mundo amoral. E, de uma certa maneira, muitos de nós dizem que vivemos o fim dos tempos, que tudo está fora do lugar e que hoje tudo vale. Curiosamente, nesse mesmo fim de semana assisti, em sessão dupla, ao filme 'Vicky Cristina Barcelona' e Woody é mais um a apresentar o lesbianismo labial que virou regra, mas que em 1990 o 'Justify my Love' da Madonna ainda escandalizava. Então, estamos realmente vivendo tempos amorais?
É disso que João Ubaldo trata. Há um deslocamento de eixo, e o novo responsável pela fogueira tem status de servidor público. O Grande Irmão está de olho, e a sede de limar livros, reescrever textos, controlar corpos - não mais o erotizado, mas o somatizado - anda enorme, e não para de crescer. Se Deus nos abandonou, o Estado jamais nos permitirá caminharmos sozinhos.
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