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Eu entrava no período de carnaval em Santo Amaro com forte expectativa de acontecimentos grandiosos. Muitas vezes a animação vinha mesmo de fora para dentro. Conheci o carnaval do Rio antes de conhecer o de Salvador. Vi os clóvis em Guadalupe, os blocos de sujo na praça tão bonita de Marechal Hermes, os bate-bolas em volta do coreto de Quintino, o Bafo e o Cacique na vastidão da Avenida Central - que é como ainda por vezes chamávamos a Rio Branco.
Quando era menino, não ouvia queixas: parece que quem não gostava de carnaval se sentia na obrigação de respeitá-lo como um marco religioso. Depois, começando pela Bahia, a chiadeira começou. Quando o Rio chorava ter seu carnaval resumido ao Tafawa Balewa Square de Niemeyer e Darcy Ribeiro, os moradores residenciais não tinham do que reclamar. Agora que a cidade celebra o renascimento do carnaval de rua, ninguém dorme em Ipanema.
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Caetano Veloso
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Adaptação de texto publicado em O Globo de 26.02.12. A íntegra pode ser lida aqui.
Imagem com Creative Commons, Mídia Fora do Eixo.
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