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Governos que pagam mal aos professores, que não têm programas sérios de capacitação dos mestres, onde escolas estão caindo aos pedaços, descobriram que a compra de equipamentos eletrônicos é um bálsamo da pedagogia da marquetagem. Cria-se a impressão de que se chegou ao futuro sem sair do passado.
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A compra de 300 mil tabuletas (equipamento também conhecido como tablet) para estudantes da rede de ensino público nacional poderá ser a última encrenca da gestão do ministro Fernando Haddad, ou a primeira de Aloizio Mercadante.
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Elio Gaspari. Texto abaixo."
A compra de 300 mil tabuletas (equipamento também conhecido como tablet) para estudantes da rede de ensino público nacional poderá ser a última encrenca da gestão do ministro Fernando Haddad, ou a primeira de Aloizio Mercadante.
O repórter Luciano Máximo informa que falta pouco
para que o governo federal ponha na rua o edital de licitação para essa
encomenda.
Governos que pagam mal aos professores, que não têm
programas sérios de capacitação dos mestres, onde escolas estão caindo aos
pedaços, descobriram que a compra de equipamentos eletrônicos é um bálsamo da
pedagogia da marquetagem. Cria-se a impressão de que se chegou ao futuro sem
sair do passado.
O governo de Pernambuco licitou a compra de 170 mil
tabuletas, num investimento global de R$ 17 milhões. A prefeitura do Rio
anunciou em outubro que tem um projeto para distribuir outras 25 mil. A de São
Paulo contratou o aluguel de 10 mil ao preço de R$ 139 milhões.
Felizmente, o negócio foi abatido em voo.
A rede pública de Nova York, com 1,1 milhão de estudantes,
investiu apenas US$ 1,3 milhão, numa experiência que colocou dois mil iPads nas
mãos de professores e de alunos de algumas escolas. Já a cidade mineira de
Itabira (12 mil jovens na rede pública) comprou três mil laptops, num
investimento de US$ 573 mil.
Na Índia, onde se fabricam tabuletas simples por
US$ 35, existe um projeto piloto, para 100 mil alunos, num universo de 300
milhões de estudantes. Se tudo der certo, algum dia distribuirão 10 milhões de
unidades.
Na Coreia, o governo planeja colocar tabuletas nas
mãos de todas as crianças do ensino fundamental. Lá, a garotada tem jornadas de
estudo de 12 horas diárias.
O projeto de Pindorama parece mais com o do
Cazaquistão do companheiro Borat, onde se prevê a compra de 83 mil tabuletas
até 2020.
Encomendas milionárias de computadores ou tabuletas
para a rede pública são apenas compras milionárias, com tudo o que isso
significa. Se a doutora Dilma quiser, pode pedir as avaliações técnicas que
porventura existam do programa federal. Um Computador por Aluno.
Com quatro anos de existência, o UCA tem muitos
padrinhos e fornecedores (150 mil máquinas entregues e 450 mil encomendadas por
estados e municípios). Nele, algumas coisas deram certo. Outras deram errado,
ora por falta de treinamento dos professores, ora pela compra de equipamentos
condenados à obsolescência.
Uma boa ideia não precisa desembocar em contratos
megalomaníacos que terminam em escândalos. Se um cidadão que cuida do seu
orçamento não sabe qual tabuleta deve comprar, o governo, que cuida da Bolsa da
Viúva, deve ter a humildade de reconhecer que não se deve encomendar 300 mil
tabuletas, atendendo a fabricantes que não conseguem produzir máquinas baratas
como as indianas ou versáteis como as americanas, japonesas e coreanas.
Se esses equipamentos só desembarcarem em cidades e
escolas onde houver banda larga e professores devidamente capacitados, tudo
bem.
Se o que se busca é propaganda, basta comprar 20
tabuletas, chamar a equipe de marqueteiros que faz filmes para as campanhas
eleitorais e rodar o vídeo. Consegue-se o efeito e economiza-se uma montanha de
dinheiro.
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Elio Gaspari em O Globo, 28.12.11, via ArquivoEtc.
Imagem incluída por mim, via Smolzanderson.
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