segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A máquina de sonhos

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À sua volta toda o eu americano estava se reconcebendo em termos mecânicos, mas em toda parte escapava ao controle. Esse eu conversava constantemente sobre si mesmo, mal tocando em qualquer outro tópico. Uma indústria de controladores havia surgido para lidar com seus problemas de desempenho. A infelicidade era redefinida como falta de condicionamento físico, desespero como uma questão de bom alinhamento da coluna. Felicidade era comer melhor, distribuir os móveis mais racionalmente, era uma técnica de respiração profunda. Quando incendiários tocavam fogo no Ocidente, quando um homem pegava uma arma e começava a matar estranhos, quando uma criança pegava uma arma e começava a matar amigos, esse era o único assunto: o esmagamento dos sonhos em uma terra onde o direito de sonhar era a pedra fundamental da ideologia nacional, o cancelamento pulverizador da possibilidade pessoal em um tempo em que o futuro estava se abrindo para revelar panoramas de tesouros inimagináveis. Uma pergunta crucial, ignorada, não respondida, talvez irrespondível: isto aqui é tudo o que existe? O que é isto? Isto é tudo? As pessoas estavam despertando e entendendo que suas vidas não lhes pertenciam. Seus corpos não lhes pertenciam e o corpo de ninguém pertencia a ninguém tampouco. Não viam mais razão para não atirar.
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adaptação de Salman Rushdie, em Fúria

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